A Arraia.



Nadando em um mar de alvidez, vai a arraia. Nenhum mal é capaz de toca-la ou penetrar seu universo particular. Ela é toda poesia em seus movimentos, majestosa e altiva. Qualquer lugar é seu oceano, é dona de tudo e de todos que ousam passar em seu caminho.
Misterioso animal levado por seus instintos, belo e mortal, emoldurada no castanho dos meus olhos ela apenas passa de um lado para o outro, sem notar minha presença. Para conseguir observa-la, fico totalmente submersa em água salgada, ainda em dúvida se estou no mar ou em uma lagoa formada pelas lágrimas que chorei noite após noite. Sem fôlego, já sentindo a vida saindo de mim, permaneço petrificada, olhando o bicho que passa indiferente à minha presença.
Em vão, tento estender as mãos e tocá-la. Quanto mais me aproximo, mais ela se distancia. Foge de mim rápida e voraz, ferindo-me sem ao menos ter lançado seu ferrão. Mata-me. Ata-me. Liberta-me.
Tomada pela falta de oxigênio, desfaleço. Os olhos vidrados, voltados para a luz que passa através da água que me cobre. Sem esperança afundo como se houvesse uma âncora amarrada aos meus pés. A escuridão vem, os sons somem aos poucos. A arraia, como que sentindo o que me aguarda, aproxima-se e apenas me observa. Vou descendo até tocar o fundo, imóvel. Vencida.
Acordo envolta em suor, com a respiração ofegante. Busco o ar que achava me faltar. O quarto tomado pela luz primaveril me diz que a vida continua. Surpresa e aliviada percebo que tudo não passou de um sonho. Tudo não passou de um sonho.

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