Ensaio Sobre A Tristeza e Outras Cápsulas.

Hoje estou vivendo um daqueles dias em que a tristeza vem forte, sem explicação e impiedosa.

Nesses dias, em que a tristeza me faz folha seca atirada ao chão, tenho ainda mais admiração por todos os meus amigos bipolares. Admiração e respeito.

Deve ser angustiante estar mergulhado em seus próprios fantasmas e ainda ter que ouvir as pessoas dizendo "a vida é tão bonita, sai dessa", "ah, mas você nem está se esforçando", "ficar assim não vai adiantar nada". Amigos e familiares devem aprender que oferecer ajuda a alguém com bipolaridade não é ficar dando pitacos sobre o estado de espírito das pessoas e se elas estão ou não se esforçando para sair da situação. Ser bipolar não é uma questão de esforço, é uma questão de química cerebral, assim como apaixonar-se.

Aliás, muito bem lembrado esse assunto de paixão. Paixão também é química. Recentemente descobri, através de uma amiga (que também é bipolar, vejam a merda: bipolar e apaixonada, a sensação deve ser de um "Redoxon" fervilhando dentro do cérebro) que a química da paixão leva ao menos 3 anos para ser completamente eliminada do organismo da pessoa. Então, caro leitor, se você está apaixonado e não está sendo correspondido, não pense que isso vai passar assim tão rápido, meu conselho é: apaixone-se por outra pessoa. A química será a mesma, mas você pode dar a sorte de ter a paixão correspondida e vai poder trocar noites mal dormidas e travesseiros molhados de lágrimas por sessões de sexo selvagem e travesseiros molhados de suor.

Esses dias o assunto "depressão" volta a estampar as manchetes dos principais jornais, devido ao suicídio do ator Robin Williams, que sofria de depressão e era dependente químico e de álcool. Pela lógica equivocada da sociedade, não demora muito começarão a pipocar debates traçando uma ligação direta entre esses três componentes depressão-álcool-drogas. Assim, se o cara está ligado a algum desses termos, automaticamente estará fadado a ser ligado aos outros. Lógico que algumas pessoas sofrem de depressão e utilizam álcool ou drogas, assim como há quem use álcool e eventualmente esteja deprimido ou use algum tipo de droga ou o contrário. Mas creio ser um erro achar que há uma obrigatoriedade em se discutir sobre depressão, álcool ou drogas baseando-se apenas no caso de uma figura pública que foi vitimado por essa combinação letal. Mas - notem a filosofia adquirida após muitos anos de dedicação aos estudos - "uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa".

Uma coisa interessante que descobri: quando estou essa poça de tristeza, meu TOC e ansiedade diminuem,vejam só! Triste, fico tranquila e serena. Fico imaginando que deveriam vender tristeza em cápsulas. Visualizem a seguinte cena: eu, no meio de uma crise de ansiedade das brabas (dessas que chego a ficar com o rosto vermelho), entrando numa farmácia e perguntando: "qual a sua dose mais forte de tristeza?" e o farmacêutico respondendo: "tenho de 500mg e de 1000mg, acima dessa dosagem, só com receita médica, você trouxe?". Claro que eu não teria a bendita receita, todo mundo sabe que eu detesto ir ao médico, então responderia ao farmacêutico "não tenho receita, me dê um de 1000mg, genérico porque é mais barato".

Aliás, muitas soluções poderiam ser vendidas sob as mais variadas formas. Imagine chegar na farmácia e pedir um "supositório de vergonha na cara" (porque quem não tem vergonha na cara tem mais é que tomar no cu mesmo), ou um "complexo anti-complexos".

Termino por hoje, ou por agora, sei lá... Não tenho como prever se vou sentir necessidade de escrever outro texto ainda hoje. E mesmo que sinta, não sei se vou estar com preguiça de escrever. Paro por aqui, acho que vou ali na farmácia pedir uma pílula de perseverança.



Para Daniele Machado de Oliveira, Luiz Eduardo e Ana Vitória Cabral, em 13/08/2014.





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