Sobre Fotografias e Necessidades.

Outro dia abri uma caixa onde guardo fotos do meu filho caçula, de quando ele ainda era bebê. Naquela época já existiam câmeras digitais, mas ainda eram caras, então usávamos máquinas analógicas para registrar os passeios, aniversários e outros momentos especiais.

Comecei a refletir sobre o significado das fotos antes e agora, com toda essa tecnologia, no mundo do "tudo-ao-mesmo-tempo-agora", onde celulares fazem de tudo: fotografam, filmam, são rádio, player, computador... só não fazem muitas ligações, afinal, a qualidade dos serviços das operadoras não acompanhou o avanço tecnológico. Já vi app para celular que transforma o mesmo em vibrador, isso mesmo caros leitores! Vibrador!! Obvio que experimentei, né? Mas não curti. Achei muito fraco.

Mas, voltando às fotos.

Antes do advento das câmeras em celulares, as fotos eram memórias de datas importantes, como aniversários, casamentos, viagens, etc. E eram compartilhadas apenas com os mais próximos, que vez ou outra nos visitavam em nossas casas, para um café nas tardes de domingo. Havia todo um ritual para receber visitas nessa época, preparava-se um bolo, passava-se um café, comprava-se pão na melhor padaria do bairro, sem falar nos frios e queijos.

Ainda à mesa, pedia-se licença e ia-se até o quarto, buscar os álbuns de fotos. Havia álbuns pequenos, geralmente cedidos pela própria loja que cuidava da revelação, e havia álbuns maiores, comprados para fotos especiais: as primeiras fotos do bebê, o primeiro aniversário, etc. Cada sequencia de fotos tinha sempre alguma particularidade, envolvia um sentimento, representava alguma coisa. As fotos estavam intimamente ligadas ao emocional das pessoas, ao seu estado de espírito, no momento que foram tiradas.

Na era da tecnologia, onde todos os celulares possuem câmeras (alguma com definição profissional), as fotos perderam muito do seu significado e se tornaram, acima de tudo, instrumento de ostentação e exibição.

Fotos deixaram de ser registros de memórias sentimentais e passaram a ser exibidas indiscriminadamente em redes sociais. Exibe-se fotos de refeições, pés, unhas, roupas, óculos,  e dos próprios celulares que as geraram, claro que a preocupação maior dessa última é posicionar os dedos de maneira a exibir a marca do telefone, afinal ostentar está diretamente ligado a exibir marcas.

O importante, agora, não é mais a viagem dos sonhos, são as fotos que serão exibidas, mesmo que a pessoa tenha ido a determinado local apenas por alguns segundos, só pra dizer que esteve lá, sem tomar conhecimento da história do local, de seu significado e de sua integração com os demais elementos circunvizinhos.

Comer para saciar a fome é completamente fora de moda. O simples feijão com arroz, bife e batata frita está superado. Todo mundo passou a gostar de comida japonesa! Ai de quem ousar postar uma foto do "podrão" da esquina, pois corre o risco de ser tripudiado. Chique mesmo é juntar a família e comemorar num restaurante caro, cercado por pessoas estranhas e comidas caras, porque isso significa que você pode, mesmo que todos estejam carecas de saber que aquele jantar vai custar muito feijão com arroz e ovo nos meses subsequentes, para poder pagar a fatura do cartão de crédito que tornou possível aquele jantar "inesquecível".

Tenho uma amiga que diz que não gosta de fotos em festas, fala que esses momentos são pra ser guardados na memória. Eu a compreendo. Nada como poder acessar nossos arquivos a qualquer hora e em qualquer lugar, independente de qualquer outro fator, como existência de aparelhos celulares, tablets, computadores ou qualquer outro dispositivo de processamento e armazenamento.

Pobre mundo onde a necessidade de aparecer se sobrepõe à necessidade de ser feliz e onde felicidade é confundida com poder de compra. Somos mercadorias em prateleiras de ilusão, torcendo para sermos escolhidos através de nossos rótulos e embalagens, mesmo que nossos consumidores não saibam, ao certo, se nosso interior esconde incomparáveis e inimagináveis prazeres ou se estamos mofados, estragados e podres.

Um bom final de semana a todos!




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