Dizem Que Ela É Louca.

Sentada de frente para o mar ela fazia sua oração, com os olhos fechados.

Agradecida por tudo o que a vida trouxe, mesmo as coisas ruins. Sabia que após as tempestades sempre virão dias de Sol e redenção. É isso que ela experimentara naquele momento, a redenção.

Desculpou-se com Deus, ou, como ela costuma escrever, D'us, por ter deixado que alguns pensamentos sombrios tivessem tomado sua cabeça nos momentos de desespero. Quando olhava para o horizonte e não conseguia enxergar outra saída a não ser fugir dessa vida, mesmo sabendo que isso ia contra suas convicções morais e religiosas. Contudo, às vezes a dor que lhe rasgava por dentro era maior do que toda a fé que acumulou durante sua existência.

Os tempos, agora, eram outros. Tempos de sorrisos e colheitas. Tempo de descobertas.

Descobriu muito sobre si nos momentos agudos da dor. Entretanto foi na alegria que percebeu que ainda se amava. Pegou-se, em certa ocasião, sorrindo pelas ruas sem motivo aparente, sorria por sorrir. Sorria porque seu havia recuperado seu amor próprio, sua autoestima. Novamente bastava a si mesma. Continuava sabendo que o amor é uma árvore que frutifica e cresce mesmo quando não é alimentado, pois os meses de distância não trouxeram o esquecimento, contudo ter deixado esse amor em segundo plano foi essencial em seu processo de cura. Agora ela sabe que, no dia em que ele chegar, vai encontrar uma outra mulher, mais firme, mais segura e decidida, dona - de verdade - de seus próprios caminhos.

Também percebeu que, por mais louca que pudesse ser a ideia, gostava de ter uma rotina. Gostava de seguir aquele roteiro diariamente, afinal esse roteiro incluía a companhia das pessoas que mais amava e quem é que não gosta de estar perto de quem ama?

Findada a oração, levantou-se e caminhou para o mar. Molhou os pés na água trazida pela onda sem sentir que uma lágrima rolara face abaixo. Repleta de gratidão, voltou seu olhar para a areia, lembrando de cada pequeno detalhe dos dias felizes que viveu naquele pedaço de paraíso. Fora sentada naquele local que ela havia visto Deus pela primeira vez, então nada mais justo do que celebrar seu recomeço onde ela julgava ser sua segunda casa.

Estava pronta para partir. Caminhou até o calçadão, limpou os pés, calçou o tênis e colocou seus fones de ouvido. Caminhou a passos lentos até o ponto de ônibus, curtindo a brisa que emaranhava seu cabelo. Foi-se, com a certeza de que no dia seguinte estaria de volta, e no outro, e no outro, e tantos outros... Então, mergulhada em sua autodeterminação, continuava sendo a mesma louca que sempre fora, e isso reforçava o fato de que nunca estivera tão sã.

Para Daniele Machado de Oliveira, em 22/05/2014




2 comentários:

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    1. Belíssimo é seu Blog, Obrigada por comentar!! Um comentário histórico, já que foi o primeiro!!!

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