Ressonâncias.

Mergulhada em minhas reflexões, penso em fazer algo inusitado, que poucos esperariam que fizesse. Talvez o excesso de introspecção desperte esses desejos bizarros na gente, e dever ser assim que as pessoas decidem, por exemplo, comer feijão com bolo confeitado. Não nasci para o silêncio, sou toda grito. 

Sempre fui uma ruminadora de ideias e palavras, a maioria delas duras ou loucas demais para serem digeridas. Inconstância e rompantes de todos os tipos sempre foram minha marca registrada e não houve melhor frase para me definir do que uma dita por uma amiga muito próxima "você vive furacões que, do nada, viram brisas".

Quando o sonho de muitos era ter uma casa própria, eu almejava uma barraca e uma mochila maiores. Enquanto a maioria das amigas sonhava em subir ao altar com o príncipe encantado, eu provava das mas diversas bocas, experimentava as mais alucinantes paixões de uma noite só e apagava um cigarro num motel qualquer da esquina.

Proibições sempre foram como imãs que me atraiam na direção de tudo que é imoral, ilegal ou engorda. 

Então chegaram o pânico, a ansiedade e o TOC.

Não sei quem chegou primeiro, mas posso afirmar que eles contribuíram para que eu buscasse uma calmaria no meio de toda essa tempestade. Então, posso  dizer que minha vida foi salva por um emaranhado de transtornos psicológicos - e talvez psiquiátricos - que resgataram meu instinto de sobrevivência.

Hoje ainda sou duramente atingida pela aversão à rotina, mas me contento fazendo uma coisinha diferente aqui, outra ali. Nada muito extravagante. Ergui, tijolo após tijolo, um muro de limites que não apenas me impedem de perder o domínio sobre mim mesma, mas impedem que pessoas nocivas invadam meu espaço. 

Tem vezes em que penso se seria melhor buscar a cura ou permanecer nesse estado exacerbado de atenção e vigilância desde a hora em que acordo até o momento em que consigo dormir. Já não sou a mesma de quase quinze anos atrás, quando das primeiras crises, talvez não esteja pronta para conviver novamente com a serenidade. Acho que me tornei dependente de meus próprios distúrbios.

Vou tocando a vida assim, uma neura de cada vez, torcendo por mais um dia sem medo de ter medo de ter medo, confundindo sinais e sintomas. Enxergando sintonias e interferências onde domina o vácuo. Aguardando o próximo rompante, seja ele qual for. 


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